21 dezembro 2011

solstício

o dia acorda brilhando, resplandecendo a luz máxima do sol. reflexos tropicais fazem craquelar o cinza habitual paulistano. no cimento partido, por entre os vãos alegria floresce.

16 dezembro 2011

caleidoscópio

sou um ser-mosaico. coexistem em mim partes de diferentes cores e tamanhos: cacos de vidro colorido, pedaços de infância, cheiro de pêssego maduro e café recém coado, miçangas. fragmentos móveis, produzindo sempre figuras inéditas. e vazios inesperados. seres assim não são. estão, apenas. não duram mais que o instante fugidio.

15 dezembro 2011

son(h)o

quando durmo, quem dorme em mim? nem todo o corpo, aliás bem pouco. também não dormem as ideias. os pensamentos não cedem jamais às seduções do adormecer. quando durmo, muito desperta. só eu dorme. tudo o mais se liberta.

10 dezembro 2011

assombrada

era bom crer nos fantasmas. sempre podiam obturar um pouco os vãos. não completamente, já que são translúcidos. mas, mesmo assim, luminescentes, seu tênue véu de gaze havia de proteger a pele, o corpo. era bom se pudesse crer. mas não posso. e assim fica exposta a alma nua à tentação dos abismos escuros e infinitos das ausências seriadas.

09 dezembro 2011

ponte

uma ponte de limites borrados pela neblina. uma ponte quase interminável. o que haverá do outro lado? de onde estou, não ouço nada, só os passos, só os passos. a voz não sai e eco não responde. o que haverá depois da ponte, onde o olhar não chega? o que haverá na outra ponta, de onde só vem silêncio?

07 dezembro 2011

chuva de verão

umidade abafada de verão. o mundo pesa com o ar nublado e quente. no meio da tarde, a chuva traz uma esperança de alívio. nem sei o que é melhor: a sensação da água fria correndo no corpo, a delícia de sentir a chuva entrando pela roupa, ensopando o cabelo, nublando os olhos; ou o som, a dissonância desarranjada dos pingos, produzindo uma espécie de fuga em várias vozes e calando os humanos. momentaneamente.


(deixo aqui o link da composição de marcelo branas, citada por ele no comment abaixo)

05 dezembro 2011

vento

há o que passa, o que o tempo leva. há areia, ar e água. e no vai-e-vem dos dias, olho para trás e já não sei o que permanece, se são dunas ou marés . ou se o que de fato insiste é o vento: somos nós, tempo-vento, sempre vagando, sempre juntos e em movimento.

04 dezembro 2011

impossível

falo tanto, falo sempre. e parece que no momento exato de dizer, escorre um fio tênue de água por entre as palavras, ou dentro delas, por entre as sílabas. um filme transparente, de lágrima, mar ou soro. um quase nada. e tudo o que se queria dizer torna-se num instante sopa de letras.